| |
WASHINGTON - Enquanto o PSDB e o DEM se entregam a uma tática eleitoral carbonária, tendo como base política a minoria que odeia o governo Lula e como ferramenta a mídia corporativa brasileira, nos Estados Unidos o discurso de quebrar o "gridlock", ou seja, de superar a paralisia governamental causada pela polarização entre republicanos e democratas, é um dos fatores que impulsionam a candidatura de Barack Obama. Obama é chamado de "Osama" pela extrema-direita, que treme tanto quanto a máquina partidária do Partido Democrata diante do fenômeno da temporada. Hoje, em New Hampshire, o senador de Illinois continua a arrastar multidões de curiosos para seus eventos políticos, gente que tenta entender os motivos que levaram um político negro a uma folgada vitória nas assembléias de Iowa, que inauguraram o calendário de escolha dos candidatos à Casa Branca. Iowa, um estado em que mais de 90% dos eleitores são brancos. Está claro que "Osama", no discurso apavorado dos extremistas republicanos, arrastou milhares de novos eleitores às assembléia de Iowa. Venceu esmagadoramente entre os jovens. Em New Hampshire, um estado em que mais de 40% dos eleitores se declaram independentes, eles podem votar tanto nas prévias do partido Democrata quanto nas do Partido Republicano. Há indícios de que os independentes e até republicanos mais moderados estão dispostos a cruzar a linha partidária e participar das prévias democratas para dar apoio ao senador de Illinois. Alguns porque realmente querem ver a derrota de Hillary Clinton, a quem não suportam. Outros porque acreditam nas palavras de Obama. E os mais jovens porque decididamente acham que é preciso mudar tudo em Washington. Qual é o discurso de Barack Obama? Ele não ataca adversários. Diz que é preciso formar uma coalizão entre democratas, independentes e até republicanos para superar a paralisia em Washington. Sem dizer isso de forma explícita, faz um contraste com a estratégia de Karl Rove, que elegeu George W. Bush com a tática da polarização, tendo como base a direita cristã. Obama diz que Washington é refém dos lobistas de grandes corporações, que controlam o Congresso através de doações de campanha. Diz que a guerra no Iraque foi um erro, que desviou os Estados Unidos da tarefa fundamental, a de combater Osama bin Laden. Diz que vai fazer diplomacia com todos os países, inclusive com aqueles que o governo Bush colocou na lista de inimigos. Promete aumentos anuais do salário mínimo. Tem um projeto que permitiria a todos os americanos ter seguro de saúde - cerca de 40 milhões não tem cobertura hoje em dia. A campanha dele é feita com propostas bem definidas e concretas. E, ao contrário do que muitos imaginam, é uma organização que até agora tem se mostrado impecável, cumprindo a promessa, por exemplo, de levar novos eleitores a participar do processo político - em Iowa, o número de participantes das assembléias democratas quase dobrou em relação a 2004. É a revolta dos "nerds". Obama é advogado formado em Harvard e as amizades que cultivou na escola de elite dos Estados Unidos foram importantes para a campanha que faz agora. Ele é casado com Michelle, uma advogada formada em Princeton e Harvard que participa ativamente da campanha. Como já escrevi, Barack Obama é uma espécie de Lula americano, no sentido de que se apresenta como capaz de fazer a ponte entre a Washington que existe e a Washington que os eleitores americanos acreditam ser possível. Ele tem 46 anos de idade, quatro a mais do que John Kennedy quando este se tornou o mais jovem presidente americano. Os assessores de Obama temem que ele seja assassinado, diante da ameaça que representa para os ideiais da minoria da extrema-direita, que quer os Estados Unidos um país "branco, anglo-saxão e cristão". Desde o início da campanha o senador é protegido pelo Serviço Secreto, o mesmo que protege o presidente Bush de atentados. Barack Obama apela aos jovens americanos não só porque é jovem. Ele estimula o idealismo e diz que as metas deste século devem ser o combate ao terrorismo, à pobreza, às doenças e à destruição ambiental. Ele quer livrar os Estados Unidos da dependência do petróleo, apostando em combustíveis alternativos. Do ponto-de-vista prático, pode abrir o mercado americano para a importação de álcool produzido no Brasil se de fato conseguir formar uma coalizão de republicanos e democratas para apoiá-lo no Congresso. O álcool produzido com cana-de-açucar no Brasil é muito mais barato que o álcool obtido do milho. Mas isso é difícil de antever, uma vez que os produtores de álcool de milho tem apoio bipartidário e estão espalhados por estados eleitoralmente importantes, especialmente no cinturão do milho, que inclui Iowa e Ohio - este último o estado que decidiu as eleições de 2004 em favor de George W. Bush. Outra área em que Obama agrada aos jovens tem a ver com a internet. Ele quer uma rede nacional de acesso à banda larga. Diz que assim como as ferrovias e as rodovias foram essenciais para integrar a economia americana, é preciso fazer o mesmo com a internet. O Japão já tem uma rede nacional de fibra ótica implantada com forte incentivo estatal. Mas, nos Estados Unidos, tanto as empresas de telefonia quanto as de tevê a cabo se opõem a esse tipo de rede, alegando que seria uma interferência indevida do estado na economia. Enquanto isso, as redes mais modernas da internet se concentram nas regiões e bairros nobres, de gente que pode pagar caro, contribuindo para o "apartheid" digital. Enfrentar os lobbies de produtores de álcool de milho, das empresas de telefonia e de TV a cabo seria um dos desafios de Barack Obama em Washington. Ele teria de peitar também o complexo industrial-militar, que está ganhando dinheiro como nunca com duas guerras ao mesmo tempo. E a Exxon-Mobil, que teve lucro recente de mais e 40 bilhões de dólares com o preço do barril de petróleo a cem dólares. E o Wal Mart, a maior empresa do mundo, que paga salários baixíssimos aos empregados e combate os sindicatos. Obama acha que é possível negociar e dobrar todos esses interesses. O fenômeno Obama não pode ser isolado da conjuntura mundial, em que a resposta à globalização e à ocupação do Iraque parece ter dado gás àqueles que pregam o fortalecimento dos estados nacionais. O fenômeno Obama não pode ser isolado da conjuntura econômica dos Estados Unidos, à beira de uma daquelas recessões cíclicas do capitalismo. Barack Obama não se apresenta como candidato dos negros, mas como candidato capaz de juntar democratas, independentes e republicanos para enfrentar o déficit público causado, acima de tudo, pelos bilhões de dólares gastos no Iraque e no Afeganistão. A maior ameaça aos democratas em geral e a Barack Obama em particular é a inexperiência dele em política externa. Se algum atentado terrorista de grandes proporções acontecer, especialmente nos Estados Unidos, os republicanos não perderão a oportunidade de aterrorizar os eleitores, exigindo algum durão para ocupar a Casa Branca. Daí as chances de alguém como o senador John McCain, que foi prisioneiro no Vietnã, é herói de guerra, tem grande experiência em política externa e também apela aos independentes. McCain poderia convocar para seu vice o general David Howell Petraeus, que comanda a nova estratégia americana para conter a violência no Iraque, que parece ter dado algum resultado. Especula-se que o general teria pretensões políticas. Isso se o próprio Petraeus não for convocado, de última hora, para enfrentar ele mesmo o fenômeno Obama. Mas ainda é muito cedo para fazer previsões seguras em um momento de tantas incertezas. Publicado em 7 de janeiro de 2007 |
O Blooooog do milênio!!! Música, arte, cinema, entretenimento, polêmicas, poesias, história, futebol arte, política e tudo o mais que faz da vida uma aventura errante.
segunda-feira, 7 de janeiro de 2008
Um general na Casa Branca? Não descartem ainda o nome de David Petraeus. ... por Luiz Carlos Azenha
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário