Amor Como Essência da Individuação
Emanuel Tadeu Borges
A verdadeira experiência individuadora, a experiência essencialmente individuadora é o Amor. Dito em termos práticos: é o Serviço, o “servir ao próximo”. Mas isso já foi dito... A experiência analítica que gera a transformação do sujeito é o Amor. “Amai-vos uns aos outros”, no entanto, não significa fazer de nosso semelhante objeto do mesmo tipo de sentimento de caráter egoísta que faz de nós seres separados dos outros (a manifestação mais íntima daquilo que o mestre Tibetano denomina “a heresia da separatividade”).
A afirmação complementar mostra-nos claramente que se trata de um sentido de unidade: “Amai-vos uns aos outros”. O Amor é uma força de união, em todos os sentidos. Esses dois enunciados são os princípios essenciais da individuação (processo de transformação positiva do indivíduo) e da Fraternidade (processo de transformação positiva da humanidade como um todo), respectivamente. As pessoas devem tornar-se indivíduos (“não-divididos”,portanto unificados em seus dois níveis: consciência e inconsciente atuando de modo cooperativo). Os homens devem tornar-se irmãos (unidos e enquanto indivíduos, segundo o primeiro princípio, preservando as suas diferenças; cooperando).
A essência da vida não é nem a necessidade, nem o poder, mas o Amor. O Amor é o poder que não escraviza, mas liberta, pois liberdade é união. A verdadeira liberdade é servir ao outro, é doar-se. O amor é, “a virtude que dá” (Nietszche). Doar ou Amar é permitir-se impregnar pelo Todo “em que vivemos, nos movemos e temos o nosso ser”, para agir Nele inspirado. Ser conduzido pelo Cosmos permitindo-o agir através de nós. E ao agir através de nós, o Cosmos faz agir o indivíduo, a singularidade criativa que somos, levando-nos a cumprir nossa parte na Grande Obra Universal. A nossa “tarefa”, nossa “missão”, aquilo que nos foi requisitado realizar, a participação construtiva que é dada a cada indivíduo realizar, única e intransferível.
O dom do Todo, que “atravessa nosso ser” e que “nos inspira” ou “que nós inspiramos no Ser” é o Pneuma dos gregos, a Anima dos latinos, o Ka dos egípcios, o Atma hindu, o Tao chinês, o Espírito Santo cristão. E ao atravessar-nos ele nos incita a criar laços. Como na famosa passagem de “O pequeno príncipe”, de Saint-Exupéry: “O que quer dizer cativar?” Cativar, no sentido amoroso da expressão, quer dizer “criar laços”. O Amor não escraviza (torna cativo, no outro sentido: prende, cerceia, nega), mas liberta (cativa, inspira, apaixona, guia, une), unifica preservando as diferenças individuais, as singularidades.
Doar-se é a condição para romper-se os vínculos narcísicos com o eu e o mundo. “Apagar a história pessoal” e “parar o mundo”, na terminologia de Castaneda (conferir os 2 capítulos com esses nomes em “Viagem a Ixtlan”). Desfazer o eu e o mundo são também a condição para criar e curar-se da “imobilidade psicológica” e do “isolamento social” (da neurose e da alienação). Como afirma Octavio Fernández Mouján, em seu belo “La creación como cura”, viver positivamente o que ele denomina “crise vital”, abrir um “espaço quântico” na existência, só é possível à força de um desapego criativo: renunciar ao velho para dar passagem ao novo “em si mesmo” e “no mundo”. Renunciar ao eu e aos objetos como “forças de identificação”.
Talvez o que Freud chamou “pulsão de morte”, Nietszche “vontade de poder” e Marx “luta de classes”, essa força que aparece ora como dramaticamente entrópica (em Freud), ora como tragicamente excessiva (em Nietszche), ora como determinantemente antagônica (em Marx), cindindo interna e externamente a existência humana (isto é, psicológica e socialmente; individual e coletivamente), a Morte, a Embriaguez ou o Ódio, como símbolos do Ser, talvez, dizíamos, essa força possa ser vivida diferentemente...
Concebida, visualizada, direcionada e posta em movimento sob a forma do Amor, ela deverá atuar como união de opostos. Graças a um esforço coletivo crescente dos homens, a partir de cada indivíduo, em seus “pensamentos palavras e obras”. Pois os pensamentos e as palavras preparam a ação. Essencialmente e mais profundamente: “a energias e gue o pensamento”. Ou como dizia o grande místico espanhol Vicente Béltran Anglada, a ação criativa dos devas, a energia construtora de formas na Natureza, segue o planejamento mental ou inspiração intuitiva humana (o pensamento).
Um comentário:
Essa poesia DE TUDO FICA UM POUCO, por Laís Cavalcanti dos Santos. Essa Laís é a senhora professora? Se for, parabéns! Muiiito Boniiiita! ;DD
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