quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Mudança de mentalidade... por Laís Cavalcanti dos Santos

Há mais de 500 anos, com a expansão portuguesa, o critério da autoridade, ou seja, da aceitação de uma afirmativa como verdadeira, só por ter sido feita por alguém que se supõe entender do assunto, começou a ser posto em dúvida.

A aventura trouxe conhecimento através da prática e a prática levou a mais conhecimento através de novas aventuras. A dúvida foi o motor dessa engrenagem!

Hoje, os especialistas nos bombardeiam com verdades que não permitem a dúvida. "Somos especialistas!" - dizem. E do outro lado, a massa administra as informações recebidas como verdade absoluta, selando-as com frases como "eu li na veja!", "passou no jornal nacional!", entre outras.

Onde está o espírito aventureiro do conhecimento? Como nos tornamos tão apáticos diante da nossa própria realidade? Quando a subserviência intelectual aos especialistas, em serem especialista, se tornou a conduta adequada?

Daí já nasce uma dúvida: se a imprensa de hoje atuasse em Portugal no renascimento haveria a expansão?

SERÁ QUE NÃO É HORA DE APRENDER COM O PASSADO E DEIXAR DE TEMER O FUTURO?

OS MONSTROS CRIADOS PARA FREAR O ESPÍRITO AVENTUREIRO DO CONHECIMENTO JÁ NÃO HABITAM MAIS O MAR OBSCURO...
AGORA ELES ESTÃO POSTOS , PELOS QUE TEMEM A MUDANÇA, NOS GABINETES GOVERNAMENTAIS LATINO-AMERICANOS!

Que tal aprender com a expansão marítima e iniciar uma "expansão mental"?


segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Relatório em que Maluf deseja morte de "Chaves" aprovado por 44 votos a 17 - por Luiz Carlos Azenha






A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara Federal pode votar
hoje o relatório do deputado Paulo Maluf que concorda com a
adesão da Venezuela ao Mercosul. O projeto tramita em regime
de urgência. Além de referir-se ao presidente da Venezuela como
"psicopata" e "cafajeste", através da imprensa, o relator
incluiu no texto oficial que será submetido à votação seu desejo
de que o presidente da Venezuela morra logo.

O relatório deveria entrar para os anais das piadas
legislativas brasileiras. Nele, o deputado que analisou

a matéria demonstra que não sabe escrever o nome do
presidente do país vizinho. Ou vai ver que, numa
sutileza que seria surpreendente em Maluf, ele se
refere ao Chaves mexicano?

Eu esperava encontrar uma sólida argumentação baseada em
fatores políticos, sim, mas também geopolíticos e
econômicos. Porém, parte do relatório é calcada em
notícias de jornal e revista. É a política externa
do Brasil "conduzida" por subalternos dos Marinho e
Mesquita.

Além de desejar a morte de Hugo Chávez, Maluf sugere
que ele é o verdadeiro governante da Bolívia e que o
Brasil deve seguir a liderança do Paraguai, como se
isso fosse algum tipo de desmoralização. Em outras
palavras, Maluf ofende a Hugo Chávez, à Bolívia e
ao Paraguai em um único texto oficial. Nada mau para
quem é autor da célebre frase "estupra mas não mata".

Além de cobrar democracia da Venezuela, o ex-prefeito
de São Paulo - indicado pelo regime militar - faz menção

a outro democrata, José Sarney, o oligarca que, depois
de 40 anos comandando o Maranhão "deixou" o estado com
alguns dos piores indicadores sociais do Brasil.

Nos últimos nove anos Hugo Chávez foi eleito três vezes
presidente da República pelo voto direto dos venezuelanos;
Paulo Maluf tentou se eleger presidente do Brasil
indiretamente e José Sarney foi eleito vice-presidente
do Brasil na mesma ocasião. Os dois foram aliados do
regime militar que prendeu, cassou, fechou o Congresso,
censurou a imprensa, torturou e "desapareceu" com
adversários políticos.

José Sarney fez um discurso-denúncia contra a Venezuela
no Congresso, para o qual obteve ampla cobertura da mídia,

]dando continuidade à sua campanha com artigo na "Folha
de S. Paulo" em que sugere que a Venezuela está se armando
para controlar território que disputa com a Guiana,
ex-protetorado britânico na América do Sul.

Sarney foi incluído por Chávez numa lista de ex-presidentes
que fazem campanha internacional contra a Venezuela, dentre
os quais se destacam o ex-primeiro ministro de Governo da
Espanha, José Maria Aznar; o ex-presidente do México,
Vicente Fox e o ex-presidente Alejandro Toledo, do Peru.
O ex-presidente FHC também se dedica a falar mal do Brasil
e de Chávez no circuito internacional de palestras.

A verdade factual é que, desde 1998, Hugo Chávez ganhou
mais eleições, referendos e plebiscitos do que a soma das
que foram vencidas por Paulo Maluf e José Sarney no mesmo período.

Eis parte da argumentação malufista:

"Fazendo um parêntesis ao referido argumento, mas para
reforçá-lo, lembramos a disposição do senhor Chaves em
intervir ou, se quisermos, “prestar auxílio” a Bolívia,

oferecendo suporte, inclusive bélico, ao regime de Evo
Morales. Essa ordem de fatores nos leva, até mesmo, a
vislumbrar o papel decisivo que o Senhor Chaves exerce
na condução dos negócios bolivianos.

Em outras palavras, não foge de nossas considerações a

perspectiva de ser, o senhor Chaves, o verdadeiro governante
da Bolívia, estando inclusive por trás da desapropriação
vergonhosa impingida a Petrobrás na questão do gás, bem
como das chantagens que o pupilo Evo vem fazendo contra
o Brasil, à vista das notícias que O Estado de São Paulo
traz na edição do dia 7 de novembro: “Evo impõe regras
para negociar gás com o Brasil.”

O que mais nos surpreende é que tudo isso vem sendo feito
à sorrelfa, iludindo as ingênuas – talvez fosse melhor
considerá-las como passivas – autoridades brasileiras,
que não percebem o escárnio e a desfaçatez de nossos
“amigos” sul-americanos. Ademais, o senhor Chaves já

manifestou a pretensão de ocupar a região de Essequibo,
na Guiana, como nos informa O Estado de São Paulo do
dia 6 de novembro do corrente ano.

Como reação interna às medidas do senhor Chaves,
o Estado de São Paulo, na edição de 27 de outubro
do corrente ano, observa que até o episcopado venezuelano
vem se manifestando sobre o assunto, verificando
que está se caracterizando ”um modelo de Estado
socialista, marxista-leninista, estatista, contrário
ao pensamento do libertador Simón Bolivar e também
contrário à natureza do ser humano e à visão cristã
do homem, porque estabelece o domínio absoluto do
Estado sobre a pessoa.”

Há, ainda, uma outra perspectiva para o tema Venezuela,
como chama a atenção a Revista Época do dia 29 de outubro:
a corrida armamentista promovida pelo dirigente daquele
país, que vem sistematicamente transformando o petróleo,
do iludido povo venezuelano, em equipamentos bélicos modernos
e sofisticados, levando insegurança aos vizinhos daquele país,
inclusive, ao Brasil.

A propósito, o Senador José Sarney, com a experiência de
ex-Presidente da República que contribuiu para o nascimento
do MERCOSUL, em discurso no Plenário do Senado Federal, no dia
29 de outubro de 2007, reforça o temor de que a Venezuela se
transforme em uma potência militar, provocando a referida
corrida armamentista na América Latina.

O Senador José Sarney, além disso, afirmou que o clima não
é favorável, no Congresso Nacional, para a adesão da Venezuela
ao MERCOSUL, porquanto esse país deveria, antes, “mostrar que
está pronto para a democracia”. Com isso, o nosso ex-Presidente
manifesta preocupação com a possibilidade de a Venezuela se
transformar em um país ditatorial.

Nesse particular, tememos que, ao aceitarmos a provocação
bélica, haja um esvaziamento de nossa agenda social, com o
desvio de recursos imprescindíveis para os programas sociais
como o Bolsa Família, a merenda escolar e o pagamento das
aposentadorias de nossos idosos.

Enfim, nessa matéria talvez a solução esteja em adotar a postura

paraguaia, qual seja a de precaução no que diz respeito à
admissão da Venezuela no MERCOSUL. Isso mesmo: já que as
nossas lideranças vacilam, deveríamos, nessa matéria, seguir
a liderança do Paraguai!

Afinal, é difícil esquecer as declarações infelizes do senhor
Chaves em relação ao Congresso Nacional brasileiro, impondo
inclusive prazo para que aprovássemos a inclusão da Venezuela
no MERCOSUL. De qualquer modo, sobre a ausência de democracia
na Venezuela, nos tranqüiliza, em parte, a posição do Presidente

Lula, quando o mesmo apregoa, com foros de sinceridade, que a
alternância do Poder é salutar para reforçar a democracia. Mais
do que isso, poderíamos até apelar ao senhor Chaves para que não
deixe de ter em consideração que a alternância de poder na
Venezuela constituiria o ponto culminante em sua modesta e bizarra


biografia.

Não obstante, nesse momento, para definir nosso juízo sobre
a matéria, temos em consideração, sobretudo, o povo venezuelano,
a Venezuela como país. Acima e a despeito do senhor Chaves –
que é passageiro, e esperando que a passagem seja a mais
breve possível – não podemos perder de vista o país chamado
Venezuela. A nação venezuelana é que permanecerá como amiga
do povo brasileiro, como nossos vizinhos, acima de “chavismos”
eventuais."

Isso lá é relatório digno do Congresso de um país com a grandeza
do Brasil? Ele pelo menos poderia esculhambar o Chávez com
informações de qualidade que houvesse conseguido, por exemplo,
numa visita à Venezuela ou ao território de Essequibo.
Mas é tudo de ouvir dizer.

Aqui está a lista de eleições vencidas por Hugo Chávez e seus
partidários na Venezuela, por conta dos "eleitores iludidos"
aos quais se refere Maluf.



Para refrescar a memória dos mais velhos e informar aos mais novos,
Paulo Maluf foi prefeito de São Paulo indicado pelo regime militar
e governador biônico do Estado. Foi aliado da linha-dura do Exército,
que tinha como um de seus expoentes o general Milton Tavares
(foto acima). Maluf votou contra a emenda que restabelecia eleições
presidenciais diretas no Brasil. Foi eleito uma vez prefeito e
duas vezes deputado federal - foi o mais votado em 2006. Hoje é

aliado do presidente Lula.



José Sarney é o mais antigo parlamentar em atividade no Congresso.
Começou a carreira como deputado federal, nos anos 50. Em 1966
foi eleito governador do Maranhão pela Aliança Renovadora Nacional
(ARENA), partido criado para dar apoio ao regime militar.
Antes do golpe Sarney havia apoiado o presidente deposto,
João Goulart. Sarney abandonou os militares para fundar a
Frente Liberal,
cavou a vaga de vice na chapa de Tancredo Neves e foi eleito
indiretamente vice-presidente da República. Quando Tancredo morreu
ficou com a vaga. Depois, deu apoio a Itamar Franco, a Fernando
Henrique e agora a Lula. Como se vê, é homem "do governo".

Reeditado em 21 de novembro de 2007

O relatório foi aprovado por 44 votos a 17. Vejam só como a mídia

brasileira é ruim: a Folha dava como certo o adiamento da votação.
O Estadão chegou a especular no mesmo sentido. A Folha disse que
o PMDB exigia uma diretoria da Petrobras em troca do voto a favor.
Estamos falando de duas potências do jornalismo brasileiro. Eu,
um pobre coitado com um site mixuruca e uma linha telefônica,
sempre soube que a votação seria hoje e cravei aqui desde
ontem à noite.


O fato concreto é que 100 de cada 90 empresários brasileiros
querem a Venezuela no Mercosul porque estão ganhando e vão ganhar
cada vez mais dinheiro lá. A Venezuela já é o sexto maior importador
de produtos brasileiros. Esqueçam a ideologia. Esqueçam direita
ou esquerda. A América Latina e a África são territórios naturais
de expansão do CAPITALISMO brasileiro. É só não deixar fermentar a

idéia, já existente, de que o Brasil é imperialista. Curiosamente,
quem vai encher as burras de dinheiro bolivariano são os

patrocinadores de Veja e da Globo.

Acrescentado em 21 de novembro de 2007

Votaram a favor:
Antonio Bulhões, PMDB
Benedito de Lira, PP
Beto Albuquerque, PSB
Carlos Willian, PTC
Chico Alencar, PSOL
Chico Lopes, PCdoB
Edmilson Valentim, PCdoB
Eduardo Cunha, PMDB
Flávio Dino, PCdoB
Geraldo Pudim, PMDB
Gerson Peres, PP
Hugo Leal, PSC
Iriny Lopes, PT
João Magalhães, PMDB
João Paulo Cunha, PT
José Eduardo Cardozo, PT
José Genoíno, PT
José Mentor, PT
José Pimentel, PT
Leonardo Picciani, PMDB
Luiz Couto, PT
Magela, PT
Marcelo Guimarães Filho, PMDB
Marcelo Ortiz, PV
Márcio França, PSB
Maria Lúcia Cardoso, PMDB
Maurício Quintella Lessa, PR
Maurício Rands, PT
Mauro Benevides, PMDB
Nelson Pellegrino, PT
Odair Cunha, PT
Odílio Balbinotti, PMDB
Paes Landim, PTB
Paulo Teixeira, PT
Professor Victorio Galli, PMDB
Regis de Oliveira, PSC
Sandro Mabel, PR
Sérgio Barradas Carneiro, PT
Tadeu Filippelli, PMDB
Valtenir Pereira, PSB
Vilson Covatti, PP
Vital do Rêgo Filho, PMDB
Wilson Santiago, PMDB
Wolney Queiroz, PDT

Votaram contra:
Antonio Carlos Magalhães Neto, DEM
Ayrton Xerez, DEM
Bruno Araújo, PSDB
Edson Aparecido, PSDB
Efraim Filho, DEM
Felipe Maia, DEM
Indio da Costa, DEM
Matteo Chiarelli, DEM
Mendonça Prado, DEM
Moreira Mendes, PPS
Nelson Trad, PMDB
Paulo Magalhães, DEM
Renato Amary, PSDB
Ricardo Tripoli, PSDB
Roberto Magalhães, DEM
Silvinho Peccioli, DEM
Zenaldo Coutinho, PSDB

Errei ao informar que o deputado Moreira Mendes, do PPS
de Rondônia,
havia votado separadamente pela aprovação do relatório.

Acrescentado em 21 de novembro de 2007

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Chávez e o Império... por Carlos Azevedo



O rei de Espanha mandou o presidente da Venezuela calar-se. A euforia tomou conta de todas as direitas, mas também deixou confusa muita gente boa. O que Chávez havia dito durante a Conferência da Comunidade dos Países Íbero-americanos? Que o ex primeiro-ministro espanhol, Aznar, é um fascista. O atual primeiro ministro da Espanha, Zapatero tomou a palavra para dizer que, embora tendo grandes divergências políticas com Aznar, achava que ele devia ser tratado com respeito. Zapatero não podia fazer diferente, tinha que se manifestar, porque sabia que seria cobrado na Espanha se houvesse se mantido em silêncio diante da crítica pública de Chávez. O que fez Chávez enquanto Zapatero falava? Mesmo tendo o som cortado, continuou a falar paralelamente, interrompendo Zapatero, insistindo em seus argumentos contra Aznar, lembrando que este havia apoiado o golpe de Estado que derrubou Chávez do poder por dois dias em 2002 (por ordem de Aznar o embaixador da Espanha foi o primeiro a reconhecer o governo golpista)... Chávez estava cheio de razão, mas, como muitas vezes, foi impulsivo, deselegante, infringindo a etiqueta da diplomacia etc. Nesse momento, impaciente, o rei Juan Carlos exclamou: “por que não se cala?” A imprensa das classes dominantes do Brasil exultou e aproveitou para achincalhar Chávez mais uma vez.

Por que tanta animosidade contra Chávez? Vejamos: quando Chávez foi eleito presidente da República pela primeira vez, em 1998, a Venezuela estava em falência política, suas classes dominantes, mergulhadas em profunda corrupção, desmoralizadas, não conseguiam mais governar. A maior riqueza do país, o petróleo, entregue às multinacionais de petróleo americanas, era partilhada por estas com as elites tradicionais e a alta classe média, ambas americanizadas, vivendo mais nos Estados Unidos que em seu país, seus filhos indo em massa estudar na Flórida, falando mais inglês que espanhol, acostumados todos a ver a Venezuela como uma fazenda de onde extraiam sua boa vida.

A Venezuela é o terceiro maior produtor de petróleo do mundo e exporta a maior parte da produção para os Estados Unidos. Chávez começou por questionar a dominação americana sobre o petróleo. Procurou fortalecer a capacidade de negociação da PDVSA (a empresa estatal venezuelana) com as multis. Além disso, constatando que as políticas das grandes potências haviam levado à redução brutal do preço internacional do petróleo (chegou a menos de 20 dólares o barril de 60 litros, isto é, petróleo estava mais barato que água mineral), assumiu a presidência da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) e desenvolveu uma política de valorização do preço do óleo. Isso causou ódio e remordimento nos Estados Unidos e nos outros países ricos.

Chávez também tratou de retirar das classes dominantes locais parte dos benefícios que recebiam do petróleo para poder investir na melhoria de condição de vida da população trabalhadora, especialmente em educação, saúde, alimentação, habitação. Isso enfureceu os velhos setores dominantes venezuelanos. Também o governo direitista espanhol, então comandado por Aznar, se incomodava. Porque a Espanha, ainda que há muito derrubada de sua condição de potência colonialista na América Latina, mantém grandes investimentos e desenvolve grande influência política por aqui, na condição de país sub-imperialista.

Os americanos, auxiliados pelo governo de Aznar, conspiraram com as classes dominantes locais pela derrubada de Chávez em 2002. Deram o golpe, mas não levaram, impedidos por um levante popular associado a uma tomada de posição de parte das forças armadas em favor legalidade. Chávez reassumiu tendo muito mais clareza de quem eram e como atuavam os inimigos do povo venezuelano.

Aprofundou sua política de nacionalização do petróleo e de destinar os benefícios dessa riqueza para os mais pobres. Sabendo o tamanho da ameaça, tratou também de fortalecer as forças armadas venezuelanas, comprando armas para melhorar a qualidade da defesa do país, vizinho de uma super-armada e pró-americana Colômbia e de várias bases militares dos Estados Unidos. Como diz o velho ditado, “bobo é quem pensa que o inimigo dorme”. Chávez também mudou as leis do país, promoveu a elaboração de uma nova Constituição, reformou a Justiça e o Parlamento, reforçando a participação popular.

Por tudo isso, Chávez é acusado de ditatorial. O interessante é que todas as mudanças promovidas por Chávez foram feitas à partir de eleições, plebiscitos e consultas à população. Desde 1998 realizaram-se dez eleições e plebiscitos no país. Nenhum governo em tempos atuais consultou tão freqüentemente a população como o venezuelano. Eleições cuja lisura não foi contestada por observadores internacionais. Chávez ganhou todas e por larga margem. A oposição golpista, decidida a desmoralizar o regime político do país, esteve ausente de uma eleição. Comandou a abstenção, mas o povo votou em massa em Chávez e em seus candidatos ao Congresso. Resultado, com esse ato estúpido, apolítico, a oposição ficou sem representação nos poderes da República. E depois, saiu acusando Chávez de ditatorial.

Certamente Chávez tem lá seus defeitos. Mas para se adotar uma posição madura sobre ele e seu governo, para ver com clareza no meio desse tiroteio é preciso levar em conta o principal. Registro três aspectos:

1)Trata-se de um governo antiimperialista, construindo a independência de seu país e, por isso, um poderoso aliado de todos os povos latino-americanos na luta contra as políticas imperiais que nos empobrecem e mantêm dependentes. O Brasil e todos os outros países do continente têm sido beneficiados pelas posições e políticas do governo de Chávez.

2) Também é preciso ver que ele vem promovendo políticas de melhoria das condições de vida da população trabalhadora e mais pobre da Venezuela e estimulando seu desenvolvimento econômico.

3) Todas as grandes decisões de governo têm sido respaldadas em eleições legítimas.

Atualmente, a irritação oligárquica contra Chávez alcança um novo ápice. Isso porque seu governo está propondo uma nova reforma constitucional. Uma das propostas é ampliar a possibilidade de reeleição do presidente da República. O povo venezuelano vai votar livremente e dizer se apóia ou não essa proposta. Se apoiar, Chávez poderá se reelegr outras vezes. E o povo venezuelano irá conferir no futuro se tomou uma decisão acertada ou não. É seu direito, é sua responsabilidade. Isso é democracia, é ou não é?

Ou democracia é comprar deputados e fazer passar uma emenda à Constituição no Congresso para permitir a reeleição do presidente, sem consultar a população, como fez FHC mudando a regra do jogo para ganhar um novo mandato em 1998? Isso é democracia ou é golpe? É golpe. Mas para a imprensa oligárquica FHC é o democrata impoluto. E Chávez é que é ditador? Poupem-nos de tanta hipocrisia!

Carlos Azevedo é jornalista

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Esperando o esquife passar. Thais Cavalcanti dos Santos

O esquife ainda passa, o luto ainda não cessou. Como são muito recentes crimes bárbaros supostamente cometidos por adolescentes, os holofotes ainda permanecem sobre a discussão acerca da maioridade penal.
Tecnicamente são inimputáveis aqueles indivíduos que não possuem amadurecimento necessário para dirigir de maneira consciente suas condutas. Para evitar sujeitar o adolescente, teoricamente um ser ainda em “formação” (intelectual, cultural, ideológica), à desequilibrada relação com o poder estatal representado pela “Justiça” e pelas leis penais, a legislação brasileira poupa o menor infrator do julgamento e da punição a que sujeita os criminosos comuns.
Apesar disso, quando, por exemplo, há comoção em torno de crimes cometidos por adolescentes, não é raro aparecer a cobrança de condutas punitivas severas as quais, em outros contextos, seriam “condenáveis” como algo “desumano” ou “demasiadamente excessivo”. Nessas ocasiões, a vingança e a sujeição a julgamento e a penas tão severas quanto as já previstas para maiores de 18 anos soam não só como “naturais”, mas até “indeléveis” aos ouvidos de grande parte dos cidadãos. É o que se observa atualmente quando o Congresso Nacional reúne-se, às pressas, para discutir e votar lei de redução da maioridade penal como panacéia para parte dos problemas de segurança pública.
Contudo, a indignação diante de crimes como o ocorrido com o menino João Hélio, embora seja compartilhada pelos representantes legislativos, não se canaliza para a reformulação das bases de formação dos jovens, especialmente daqueles que mais carecem da “mão invisível do Estado” a seu favor.
Enquanto o consumo – de bens e de valores – determina o comportamento e o imaginário dos jovens em geral, a ausência total ou parcial do poder público em inúmeros ‘bolsões de pobreza’ do país empurra para a criminalidade e para a desvalorização da figura humana milhares deles. Estes serão os “pivetes” que aterrorizarão a classe média nos sinaleiros das grandes cidades e que não hesitarão em preferir o tênis que pode lhes conferir status à manutenção de uma vida que, para eles, nada significa.
Soa, portanto, simplista a visão de que seria um “desvio de caráter” ou uma “personalidade psicopática” que deve ser logo afastada do convívio social, como preferem caracterizar alguns. Esses jovens são, em grande medida, fruto da desigualdade, dos valores e padrões que ajudamos a reproduzir, ou seja, de uma lógica perversa segundo a qual o desejo de “vencer”, “ser melhor” e “ter o que os outros não têm” deve balizar até a escolha da margarina para o café da manhã.
Dessa forma, quando falta a estrutura mínima para a adequada formação intelectual e cultural do jovem não é possível falar em imputabilidade. Se é verdade que a idade biológica não determina o grau de consciência de um jovem, o simples fato de o cidadão de classe média considerar “universais” e amplamente conhecidas algumas prerrogativas humanistas como o direito à vida e à propriedade não significa que elas sejam, de fato, acessíveis a todos.
Assim, não fará diferença para um jovem infrator de 14, 16 ou 18 anos a “jaula” a que será encaminhado, ou seja, se irá para uma instituição de menores ou para um presídio comum. De qualquer maneira o atual sistema de encarceramento não visa à sua reeducação ou recuperação. Ora, não se recupera aquilo que não chegou a se formar ou integralizar; assim como não se pode lembrar algo que nunca se conheceu. Trata-se simplesmente de distrair a platéia enquanto se espera o esquife passar.

Amyr Klink. Mar sem fim.



Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para conhecer o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser; que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

É a tréplica de Jon Lee Anderson, da New Yorker, a Diogo Schelp, de Veja. Desmascarando a veja parte 2!!!!!!!

(o erro: o ‘gentileza’ inicial, aí embaixo é Anderson fazendo pouco do inglês do editor de internacional de Veja; difícil traduzir essas coisas.)

Prezado Diogo Schelp:

Agradeço pelo sua ‘gentil’ resposta. (Soube que você é de fato uma pessoa muito ‘gentileza’; você mesmo o disse duas vezes em suas mensagens.) Só agora percebo, o mal-entendido entre nós nasceu exclusivamente por conta de meu caráter profundamente falho. Eu jamais deveria ter presumido que você recebera meu email inicial em resposta ao seu ou minha segunda mensagem a respeito de sua reportagem, muito menos deveria ter considerado que você pudesse ter decidido ignorá-los. É evidente que você tem um sistema de bloqueio de spams muito rigoroso. Uma dica técnica: talvez devesse configurar seus sistema como ‘moderado’ e não ‘extremo’. Se o fizer, talvez comece a receber seus emails sem quaisquer problemas. Lembre-se, Diogo: moderado, não ‘extremo’. Esta é a chave.

Você me acusa de ser antiético, um ‘mau jornalista’. Questiona até se posso ser chamado de jornalista. Nossa, você TEM raiva, não tem?

Enquanto tento parar as gargalhadas, me permita dizer que, vindo de você, é elogio. Permita, também, recapitular por um momento a metodologia utilizada por você para distorcer as informações que o público de Veja recebeu:

Você publicou na capa e na reportagem uma grande quantidade de fotografias de Che, aproveitando-se assim da popularidade da imagem de Guevara para vender mais cópias de sua revista. Para preencher seu texto, você pinçou uma certa quantidade de referências previamente escritas sobre ele – incluindo a minha – para sustentar sua tese particular, qual seja, a de que o heroismo de Che não passa de uma construção marxista, como sugere seu título: ‘Che, a farsa do herói’.

Para chegar a uma conclusão assim arrasa-quarteirão, você também entrevistou, pelas minhas contas, sete pessoas. Uma delas era um antigo oponente de Che dos tempos da Bolívia. As outra seis, exilados cubanos anti-castristas, incluindo ex-prisioneiros políticos e veteranos de várias campanhas paramilitares para derrubar Fidel. (Um destes, o professor Jaime Suchlicki, você não informou a seus leitores, é pago pelo governo dos EUA para dirigir o assim chamado Projeto de Transição Cubana.) Percebi também que você prestou particular atenção no testemunho de Felix Rodriguez, ex-agente da CIA responsável pela operação que culminou na execução de Che. O fato de que você o destaca quer dizer que você o considera sua melhor testemunha? Ou terá sido porque ele foi o único que algum repórter realmente entrevistou pessoalmente? Os outros, parece, Veja só falou com eles por telefone. Mas como são rigorosos os critérios de reportagem de Veja!

Como disse em minha ‘carta aberta’ a você, escrever uma reportagem deste tipo usando este tipo de fonte é o equivlente a escrever um perfil de George W. Bush citando Mahmoud Ahmadinejad e Hugo Chávez. Em outras palavras, não é algo que deva ser levado a sério. É um exercício curioso, dá para fazer piada, mas NÃO é jornalismo. Dizer a seus leitores, como você diz na abertura da reportagem, que ‘Veja conversou com historiadores, biógrafos, ex-companheiros de Che no governo cubano’ passa a impressão de que você de fato fez o dever de casa, que estava oferecendo aos leitores um trabalho jornalístico bem apurado, que apresentaria algo novo. Infelizmente, a maior parte do que você escreveu é mera propaganda, um requentado de coisas que vêm sendo ditas e reditas, sem muitas provas, pela turma de oposição a Fidel em Miami nos últimos quarenta e tantos anos.

Minha questão não é política. Escrevi um livro, como você mesmo disse, que é ‘a mais completa biografia’ de Che. Há muito lá que pode ser utilizado para criticar Che, mas também há muitos aspectos a respeito de sua vida e personalidade que muitos consideram admiráveis. Em outras palavras, é um retrato por inteiro. Como sempre disse, escrevi a biografia para servir de antídoto aos inúmeros exercícios de propaganda que soterraram o verdadeiro Che numa pilha de hagiografias e demonizaçoes, caso de seu texto.

Não cometa o erro de me acusar de defender Che porque critico você. Serei claro: a questão aqui não é Che, é a qualidade do seu jornalismo. Sua reportagem, no fim das contas, é simplesmente ruim e me choca vê-la nas páginas de uma revista louvável como Veja. Seus leitores merecem mais do que isso e, se aparecerei ou não novamente nas páginas da revista enquanto você estiver por aí, não me preocupa. O que PREOCUPA é que, com tantos jornalistas brilhantes como há no Brasil, foi a você que Veja escolheu para ser ‘editor de internacional’.

Cordialmente,
Jon Lee Anderson.

A resposta do editor de internacional de Veja Diogo Schelp ao repórter especial da New Yorker Jon Lee Anderson

Caro Anderson,

Eu fiquei me perguntando, depois de lhe enviar um email pedindo (educadamente) uma entrevista, por que nunca recebi uma resposta sua. Agora sei que a mensagem deve ter-se perdido devido a algum programa antispam ou por qualquer outra questão tecnológica. Também não recebi sua ‘carta’ – talvez pelo mesmo problema. Tudo isso não tem a menor importância agora porque você resolveu o assunto valendo-se dos meios mais baixos – um email circular. O que lhe fez pensar que tinha o direito de tornar pública nossa correspondência, incluindo a mensagem em que eu (educadamente) pedia uma entrevista? Isso, caro Anderson, é antiético. Vindo de alguém que se diz um jornalista, é surpreendente. Você pode não gostar da reportagem que escrevi; ela pode ser boa ou ruim, bem-escrita ou não, editorializada ou não – mas não foi feita com os métodos antiéticos que você usa. Eu respeito a relação entre jornalistas e fontes. Você não. E mais: parece-me agora que você é daquele tipo de jornalista que tem medo de fazer uma ligação telefônica (assim são os maus jornalistas), já que tem meu cartão de visita e conhece meu número de telefone. Se você tinha algo a dizer sobre a reportagem — e já que sua mensagem não estava chegando a seu destino — poderia ter me ligado.

Eu não sei que tipo de imagem de si mesmo você quer criar (ou proteger) negando os fatos que o seu próprio livro mostra, mas está claro agora que é a de alguém sem ética. Você pode ficar certo de que não aparecerá mais nas páginas desta revista.

Sem mais,
Diogo Schelp

A """reportagem""" da Veja sobre Che desmascarada pelo jornalista Lee Anderson, seu principal biógrafo!!!! parte1



O repórter
Jon Lee Anderson, biógrafo de Che Guevara, foi procurado há umas semanas pelo também repórter Diogo Schelp, da Veja. O objetivo era uma entrevista curta para a composição da reportagem que saiu na revista a respeito dos 40 anos da morte de Guevara. É um entrevistado natural – afinal, Che Guevara, uma biografia, é a principal referência ao tema.

Anderson respondeu a Diogo mas acabou não sendo procurado. Na semana passada, o veterano repórter de guerra da New Yorker teve acesso e leu a reportagem. Foi sua a decisão de tornar pública esta resposta a Schelp, que começou a circular por email entre os jornalistas brasileiros.

A original é em inglês, esta que segue é uma tradução:

Caro Diogo,

Fiquei intrigado quando você não me procurou após eu responder seu email. Aí me passaram sua reportagem em Veja, que foi a mais parcial análise de uma figura política contemporânea que li em muito tempo. Foi justamente este tipo de reportagem hiper editorializada, ou uma hagiografia ou – como é o seu caso – uma demonização, que me fizeram escrever a biografia de Che. Tentei pôr pele e osso na figura super-mitificada de Che para compreender que tipo de pessoa ele foi. O que você escreveu foi um texto opinativo camuflado de jornalismo imparcial, coisa que evidentemente não é. Jornalismo honesto, pelos meus critérios, envolve fontes variadas e perspectivas múltiplas, uma tentativa de compreender a pessoa sobre quem se escreve no contexto em que viveu com o objetivo de educar seus leitores com ao menos um esforço de objetividade. O que você fez com Che é o equivalente a escrever sobre George W. Bush utilizando apenas o que lhe disseram Hugo Chávez e Mahmoud Ahmadinejad para sustentar seu ponto de vista. No fim das contas, estou feliz que você não tenha me entrevistado. Eu teria falado em boa fé imaginando, equivocadamente, que você se tratava de um jornalista sério, um companheiro de profissão honesto. Ao presumir isto, eu estaria errado. Esteja à vontade para publicar esta carta em Veja, se for seu desejo.

Cordialmente,
Jon Lee Anderson.

El Proyecto Matriz - Episodio 3 / The Matrix Project 6/6

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El Proyecto Matriz - Episodio 3 / The Matrix Project 2/6

El Proyecto Matriz - Episodio 3 / The Matrix Project 1/6

El Proyecto Matriz - Episodio 2 / The Matrix Project 3/3

El Proyecto Matriz - Episodio 2 / The Matrix Project - 2/3

El Proyecto Matriz - Episodio 2 / The Matrix Project 1/3

El Proyecto Matriz - Episodio 1 / The Matrix Project 2/2

El Proyecto Matriz - Episodio 1 / The Matrix Project 1/2

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

ESPELHO...

Vamos para repensar nossas atitudes????????

ESPELHO...

Ninguém pode estragar o seu dia, a menos que você permita.

O colunista Sydney Harris acompanhava um amigo a banca de jornal.

O amigo cumprimentou o jornaleiro amavelmente, mas, como retorno, recebeu o jornal que foi atirado em sua direção.

O amigo de Sydney sorriu atenciosamente e desejou ao jornaleiro um bom final de semana.

Quando os dois amigos desciam pela rua, o colunista perguntou:

- Ele sempre te trata com tanta grosseria?

- Sim, infelizmente é sempre assim.

- E você é sempre tão atencioso e amável com ele?

- Sim, sou.

- Por que você é tão educado, já que ele é tão rude com você?

- Porque não quero que ele decida como eu devo agir.

Nós somos nossos "próprios donos".

Não devemos nos curvar diante de qualquer vento que sopra, nem estar à mercê do mau humor, da mesquinharia, da impaciência e da raiva dos outros.

Não são os ambientes que nos transformam e sim nós que transformamos os ambientes.

"Os tristes acham que o vento geme.

Os alegres e cheios de espírito afirmam que ele canta".

O mundo é Como um espelho, devolve a cada pessoa o reflexo de seus próprios pensamentos.

A maneira como você encara a vida faz toda a diferença!

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Um infográfico para "O Globo" chupar






Desconfie quando a mídia começa a bater repetidamente na
mesma tecla.


Aí tem coisa.

De repente, nos Estados Unidos, de exemplo de
crescimento econômico a China passou a ser
associada a todos os males: poluição, brinquedos
e outros produtos "contaminados", práticas
comerciais lesivas e diplomacia agressiva.


Logo vão acusar a China de ser comunista.

O gráfico acima foi publicado pelo
"Washington Post", sob o cabeçalho:
"O Clube da China. [...] Aqui as relações
da China com alguns regimes repressivos no mundo."


Olhem lá do lado direito: sim, é a Venezuela.

Para o Washington Post, vive "sob um regime
repressivo". [Desde 1998 aconteceram nove
eleições parlamentares, presidenciais e referendos
na Venezuela. Chávez e os partidos aliados
ganharam todas]


O gráfico diz que os negócios entre a China
e a Venezuela foram de U$ 4,3 bilhões em
2006, o dobro do ano anterior.


[A Venezuela exportou U$ 34,4 bilhões
para os Estados Unidos e importou
U$ 8,2 bilhões em 2006. Um comércio
bilateral dez vezes maior que entre China e Venezuela]


"A China está particularmente interessada
no petróleo da Venezuela", diz o Post.


É mesmo?

Achei que eles tivessem gostado dos olhos do Hugo Chávez.

Alguém aí me ajuda a fazer o Clube dos Estados Unidos?

Vamos lá: "Paquistão, Egito, Arábia Saudita,
Jordânia, Azerbaijão, Uzbequistão".


Como voces sabem, são todos exemplos de
democracia acima de qualquer suspeita.


O gráfico acima publiquei para dar uma
folga ao pessoal de "O Globo".


Mais cedo ou mais tarde eles vão publicar um igual,
só que botando chifrinhos no Chávez e no Fidel.


Publicado em 7 de outubro e reeditado
em 8 de outubro de 2007

Venezuela tem o poder de vetar a entrada do Brasil na OPEP



Neste sábado, antes de embarcar de volta para Brasília, depois de participar da Cúpula Iberoamericana em Santiago, o presidente Lula disse que o Brasil tem, sim, interesse em entrar na OPEP, a Organização dos Países Produtores e Exportadores de Petróleo (OPEC em inglês).

A adesão mais recente de um país que continua integrando o cartel foi a da Nigéria, em 1971. Os países-membros passam a ter um enorme poder de barganha no mercado internacional, uma vez que ajudam a decidir o preço do barril de petróleo, que está batendo em 100 dólares. O poder da OPEP vai aumentar de forma diretamente proporcional à retração das reservas internacionais e ao crescimento da China e da Índia, que são importadores.

Para entrar na OPEP, além de ser exportador de petróleo - o que o Brasil só será a longo prazo -, o candidato precisa de dois terços dos votos dos países-membros. Os fundadores da OPEP têm poder de veto, sendo eles o Irã, o Iraque, a Arábia Saudita, o Kuwait e a Venezuela.

Durante a cúpula de Santiago, Hugo Chávez se referiu ao presidente brasileiro como "magnata petroleiro" e "xeque do petróleo". Lula respondeu afirmando que "eu disse ao Chávez que antes de eu tirar um litro de petróleo, ele já tinha socializado o meu petróleo. Eu falei: deixa eu tirar um litro de petróleo pelo menos".

A descoberta do campo de Tupi terá impacto na política externa brasileira. Apesar da campanha da TV Globo, de José Sarney e assemelhados para distanciar o Brasil da Venezuela, a serviço da política externa dos Estados Unidos, o poder de veto de Chávez deverá ser uma pedra no sapato daqueles que querem evitar a entrada da Venezuela no Mercosul. Aquela turma de sempre - da família Marinho a Fernando Henrique Cardoso, o presidente que queria mudar o nome da Petrobras para Petrobrax.

Publicado em 10 de novembro de 2007

O último refúgio - Uri Avnery

ISRAEL É uma ilha no oceano global. Vivemos numa bolha. Esta semana, fui obrigado a lembrar-me disso.

Estava voltando da Alemanha para casa. Na véspera de eu embarcar, todas as redes de televisão, das CNN e BBC aos canais alemães, noticiavam os eventos do Paquistão. No avião, abri o tablóide de maior circulação em Israel, o Yedioth Aharonoth, para ler sobre a confusão dos paquistaneses. Não havia sinal dela na primeira página. Nem na segunda. Encontrei uma nota pequena na página 27. As primeiras páginas estavam dedicadas a assunto muito mais importante: os gritos de protesto de torcedores de futebol, todos direitistas, quando lhes pediram que ficassem em pé, em homenagem à memória de Yitzhak Rabin.

Dia seguinte, Yedioth descobriu um ângulo segundo o qual, finalmente, o Paquistão chegou à primeira página: o medo de que a bomba nuclear paquistanesa caia nas mãos de Osama bin Laden, que a usaria contra Israel. Aleluia! Outra vez, afinal, há algo para temermos.

Mas o putsch armado por Pervez Musharaf é sério. Pode bem ter efeitos de longo alcance para todo o mundo – e, em particular, para Israel.


A PRINCIPAL vítima – além, é claro, das centenas de ativistas políticos que foram jogados nas prisões – é George W. Bush.

Maquiavel ensinou que o príncipe deve preferir ser temido a ser amado. Na mesma linha, pode-se dizer que os presidentes devem preferir ser odiados a ser ridicularizados.

George W. tem-se exposto ao ridículo. Disse várias vezes que sua principal tarefa é trazer a democracia ao mundo muçulmano, e não se cansa de repetir que seu projeto avança de vento em popa – uma pretensão risível.

O que, de fato, está acontecendo?

– No Iraque, um tirano foi derrubado e dúzias de pequenos tiranos locais tomaram-lhe o lugar. O país sangra, dilacerado. As “eleições democráticas” levaram ao poder um governo que mal consegue governar a Zona Verde de Bagdá, cuja segurança depende dos soldados norte-americanos.

– No Afeganistão, um presidente “eleito” mal dá conta de governar a capital, Cabul. Fora da capital, mandam os chefetes locais. E aos poucos mas consistentemente os Talibãs estão reconquistando o país.

– No Irã, eleições democráticas elegeram um político destemperado, que muito fala e pouco faz, cuja atividade predileta é maldizer os Cruzados norte-americanos e a “entidade sionista”.

– Na Síria, há uma ditadura estável, que é deixada onde está sobretudo porque os sírios crêem que ruim com ela, pior sem ela.

– Na Turquia, manda um governo islâmico religioso, e a esposa do presidente cobre os cabelos com uma echarpe. Mais de 10 milhões de cidadãos curdos são discriminados e oprimidos. Muitos deles combatem na guerra de guerrilhas. Na campanha contra os curdos, o exército turco está a ponto de invadir o vizinho Iraque, feliz com a oportunidade de destruir ali o regime curdo, praticamente independente.

– O Líbano continua como sempre muito longe de ser democrático. Não se cogita de promover eleições democráticas, nas quais todos os cidadãos votem para eleger diretamente o Parlamento, sem divisões sectárias. É indispensável eleger um novo presidente, mas nada é mais impossível, dado o larguíssimo fosso que separa as várias seitas. Esta semana, o Hizbullah realizou grandes manobras, bem perto da fronteira com Israel. Impressionaram até o exército israelense.

– No Egito, Jordânia e Arábia Saudita, os três países ditos “moderados” (quer dizer, são ditaduras pró-EUA), há um tipo muito estranho e original de democracia: toda a oposição política fenece nas prisões.

– Na Palestina, houve eleições impecavelmente democráticas, realizadas sob estrita supervisão internacional, as únicas eleições democráticas em todo o mundo árabe. Eleições que teriam enchido de orgulho George Bush, não fosse o fato de que lamentavelmente o lado “errado”, o Hamas, teve mais votos. Agora, o serviço de inteligência do exército de Israel profetiza que o presidente Mahmoud Abbas, favorito de Bush, corre o risco de cair imediatamente depois da conferência de Annapolis caso a conferência fracasse, como prevê-se que fracassará.

– E agora é o Paquistão. Parecia que, afinal, Bush começava a colher alguns sucessos. Trouxe de volta Benazir Bhutto, também sua favorita, e tudo parecia andar às mil maravilhas: ia-se instalar um regime democrático, o presidente parecia pronto para pendurar a farda e formar uma coalizão com Bhutto. Mas, então, uma bomba explodiu perto do carro blindado de Benazir; houve dúzias de mortos. O general-presidente, que só esperava uma oportunidade como esta… deu um golpe de Estado contra si mesmo e, em vez de lá deixar sua ditadura moderada, ‘fechou’ de vez o regime, numa espécie de versão paquistanesa do governo do falecido Saddam Hussein.

Como nas comédias de Hollywood, George Bush lá está, com uma torta de creme escorrendo-lhe pela cara, ridículo.


NENHUM PRESIDENTE gosta de fazer papel ridículo. Causar medo, OK. Fazer cara de muito mau, OK. De meio bobo, OK. Mas... completamente ridículo? Nunca!

Tudo isto pode influir diretamente sobre uma questão que preocupa o mundo todo, inclusive a mim: Bush atacará o Irã?

A tentação já é quase irresistível. Mais um ano e seu mandato estará acabado. Passaram-se oito anos, e Bush não tem o que mostrar – exceto uma fieira ininterrupta de fracassos. Um homem que (como ele diz) mantém contato direto e diário com Deus não sairá assim do palco da história.

Bush sonha com algum tipo de sucesso em Annapolis. No máximo, haverá uma declaração oca, assinada pelos líderes de Israel e da Autoridade Palestina. Haverá boas fotos, mas nada que satisfaça os leões. Falta uma presa maior, algo para marcar os anais da história.

O que poderia ser melhor do que salvar a humanidade da bomba nuclear iraniana?

Há uma expressão em alemão, para isto: "Flucht nach vorne" – fuga para a frente. Se não souber mais o que fazer, ataque o inimigo mais próximo. Assim Napoleão invadiu a Rússia, movimento que Hitler repetiu anos depois. Bush pode atacar o Irã, movido por causas semelhantes.

Suspeito que a decisão já esteja tomada e que os preparativos estejam em andamento. Não há provas, mas Bush tem agido como quem já decidiu que a guerra virá.

A descomunal máquina de propaganda de Washington trabalha sem descanso para preparar o terreno, atropelam-se os opositores. Pesquisas indicam que o apoio à guerra cresce dia a dia, entre os cidadãos norte-americanos. A maioria já é favorável à guerra. O novo presidente da França, em ritmo de adolescente hiperativo, já saltou sobre a diligência e já superou Tony Blair junto a Bush, na fidelidade de cãozinho poodle.


ISRAEL tem papel central a desempenhar nessa cena.

Aqui também já está em operação uma enorme máquina de lavagem cerebral. O Ministério de Negócios Estrangeiros associou-se ao mesmo esforço e já começou uma campanha mundial para desmoralizar Mohammed al-Baradei – nome muito respeitado e chefe da Agência Internacional de Energia Atômica. Todos os dias, a imprensa servil publica matérias de correspondentes e colunistas, que são, exclusivamente, porta-vozes camuflados do exército e do governo. Dizem e repetem que, em cerca de 18 meses, o Irã já terá uma bomba nuclear; portanto, está marcada a data do fim de Israel e do mundo. Como diz uma expressão hebraica, querem fazer-nos engolir o remédio antes da doença. O caminho é sempre o mesmo: bombardeie, bombardeie, bombardeie!

Um dos possíveis cenários é: Israel inicia o bombardeio. Os iranianos respondem com mísseis contra Israel. Então… os EUA entram em ação “para salvar Israel”. Que político norte-americano atrever-se-á a protestar? Quem? Hillary Clinton??

Bush está novamente sonhando com uma guerra sem mortos norte-americanos. Ataques aéreos “cirúrgicos”. Uma chuva de bombas “inteligentes” chovendo sobre milhares de alvos iranianos – nucleares, governamentais, militares, civis. Que sonho mais doce: o Irã rende-se rapidamente. O regime dos aiatolás entra em colapso. O filho do último Xá assume o trono de seu pai, o qual já foi um dia reposto no poder por baionetas dos EUA.

Como já disse, esse cenário não me convence. O que realmente acontecerá é que o Irã fechará o estreito de Hormuz. Por este estreito, que leva o nome de uma antiga divindade persa, flui 20% do suprimento mundial de petróleo. Mede 270 km de comprimento e, no ponto mais estreito, apenas 35 km de largura. Bastam alguns mísseis e minas, para fechá-lo. Será tolerável, se a guerra durar poucos dias. Mas se durar meses, provocará profunda crise em todo o mundo.

E a guerra prosseguirá. Não haverá escapatória para os EUA, senão mobilizar imensas forças terrestres para conquistar, primeiro, a região que cerca o estreito e, depois, todo o país, um grande país. Os EUA não têm forças disponíveis de reserva – e não as têm mesmo antes de o exército norte-americano ser exposto, no Iraque, a ataques de mísseis iranianos e da guerrilha xiita – que é maioria no Iraque.

Não será nem uma guerra rápida nem uma guerra fácil. O Irã é diferente do Iraque. Comparado ao Iraque, com seus vários povos e seitas, o Irã é relativamente homogêneo. Esta guerra do Irã será uma guerra do Iraque multiplicada por 10, talvez por 100.


E NÓS? Como atravessaremos esta guerra?

Dado que o governo de Israel e seus aliados norte-americanos pressionam a favor do ataque com todo o poder que têm, Israel não poderá deixar de contribuir para a luta, se os norte-americanos o exigirem. Primeiro, usarão nossa Força Aérea, depois talvez requisitem forças terrestres.

Mas Israel também se converterá em campo de batalha. Os patéticos mísseis de Saddam Hussein, em seus dias, causaram pânico em Tel-Aviv. O que farão os mísseis iranianos?

Os governos árabes são compelidos a apoiar os EUA, pelo menos nos discursos. Mas os corações e almas dos povos árabes, do Marrocos ao Iraque, estarão com os iranianos, defendendo-se eles também contra americanos e israelenses. Sobretudo se o encontro de Annapolis não for, como se desconfia que não será, a redenção do povo palestino.

Só há um modo de alguém sair inteiro desse confronto: não entrar nele. Contudo, depois de todos os reveses que sofreu no Iraque, no Afeganistão e, agora, no Paquistão, o que convencerá Bush a resistir à tentação? E como persuadir Ehud Olmert, que anseia por uma via para escapar da arapuca em que está metido?

Diz-se que “o patriotismo é o último refúgio dos canalhas”. Para um político fracassado, o último refúgio é a guerra.

* The Last Refuge. Original em inglês em Gush Shalom, em http://zope.gush-shalom.org/index_en.html.