segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Relatório em que Maluf deseja morte de "Chaves" aprovado por 44 votos a 17 - por Luiz Carlos Azenha






A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara Federal pode votar
hoje o relatório do deputado Paulo Maluf que concorda com a
adesão da Venezuela ao Mercosul. O projeto tramita em regime
de urgência. Além de referir-se ao presidente da Venezuela como
"psicopata" e "cafajeste", através da imprensa, o relator
incluiu no texto oficial que será submetido à votação seu desejo
de que o presidente da Venezuela morra logo.

O relatório deveria entrar para os anais das piadas
legislativas brasileiras. Nele, o deputado que analisou

a matéria demonstra que não sabe escrever o nome do
presidente do país vizinho. Ou vai ver que, numa
sutileza que seria surpreendente em Maluf, ele se
refere ao Chaves mexicano?

Eu esperava encontrar uma sólida argumentação baseada em
fatores políticos, sim, mas também geopolíticos e
econômicos. Porém, parte do relatório é calcada em
notícias de jornal e revista. É a política externa
do Brasil "conduzida" por subalternos dos Marinho e
Mesquita.

Além de desejar a morte de Hugo Chávez, Maluf sugere
que ele é o verdadeiro governante da Bolívia e que o
Brasil deve seguir a liderança do Paraguai, como se
isso fosse algum tipo de desmoralização. Em outras
palavras, Maluf ofende a Hugo Chávez, à Bolívia e
ao Paraguai em um único texto oficial. Nada mau para
quem é autor da célebre frase "estupra mas não mata".

Além de cobrar democracia da Venezuela, o ex-prefeito
de São Paulo - indicado pelo regime militar - faz menção

a outro democrata, José Sarney, o oligarca que, depois
de 40 anos comandando o Maranhão "deixou" o estado com
alguns dos piores indicadores sociais do Brasil.

Nos últimos nove anos Hugo Chávez foi eleito três vezes
presidente da República pelo voto direto dos venezuelanos;
Paulo Maluf tentou se eleger presidente do Brasil
indiretamente e José Sarney foi eleito vice-presidente
do Brasil na mesma ocasião. Os dois foram aliados do
regime militar que prendeu, cassou, fechou o Congresso,
censurou a imprensa, torturou e "desapareceu" com
adversários políticos.

José Sarney fez um discurso-denúncia contra a Venezuela
no Congresso, para o qual obteve ampla cobertura da mídia,

]dando continuidade à sua campanha com artigo na "Folha
de S. Paulo" em que sugere que a Venezuela está se armando
para controlar território que disputa com a Guiana,
ex-protetorado britânico na América do Sul.

Sarney foi incluído por Chávez numa lista de ex-presidentes
que fazem campanha internacional contra a Venezuela, dentre
os quais se destacam o ex-primeiro ministro de Governo da
Espanha, José Maria Aznar; o ex-presidente do México,
Vicente Fox e o ex-presidente Alejandro Toledo, do Peru.
O ex-presidente FHC também se dedica a falar mal do Brasil
e de Chávez no circuito internacional de palestras.

A verdade factual é que, desde 1998, Hugo Chávez ganhou
mais eleições, referendos e plebiscitos do que a soma das
que foram vencidas por Paulo Maluf e José Sarney no mesmo período.

Eis parte da argumentação malufista:

"Fazendo um parêntesis ao referido argumento, mas para
reforçá-lo, lembramos a disposição do senhor Chaves em
intervir ou, se quisermos, “prestar auxílio” a Bolívia,

oferecendo suporte, inclusive bélico, ao regime de Evo
Morales. Essa ordem de fatores nos leva, até mesmo, a
vislumbrar o papel decisivo que o Senhor Chaves exerce
na condução dos negócios bolivianos.

Em outras palavras, não foge de nossas considerações a

perspectiva de ser, o senhor Chaves, o verdadeiro governante
da Bolívia, estando inclusive por trás da desapropriação
vergonhosa impingida a Petrobrás na questão do gás, bem
como das chantagens que o pupilo Evo vem fazendo contra
o Brasil, à vista das notícias que O Estado de São Paulo
traz na edição do dia 7 de novembro: “Evo impõe regras
para negociar gás com o Brasil.”

O que mais nos surpreende é que tudo isso vem sendo feito
à sorrelfa, iludindo as ingênuas – talvez fosse melhor
considerá-las como passivas – autoridades brasileiras,
que não percebem o escárnio e a desfaçatez de nossos
“amigos” sul-americanos. Ademais, o senhor Chaves já

manifestou a pretensão de ocupar a região de Essequibo,
na Guiana, como nos informa O Estado de São Paulo do
dia 6 de novembro do corrente ano.

Como reação interna às medidas do senhor Chaves,
o Estado de São Paulo, na edição de 27 de outubro
do corrente ano, observa que até o episcopado venezuelano
vem se manifestando sobre o assunto, verificando
que está se caracterizando ”um modelo de Estado
socialista, marxista-leninista, estatista, contrário
ao pensamento do libertador Simón Bolivar e também
contrário à natureza do ser humano e à visão cristã
do homem, porque estabelece o domínio absoluto do
Estado sobre a pessoa.”

Há, ainda, uma outra perspectiva para o tema Venezuela,
como chama a atenção a Revista Época do dia 29 de outubro:
a corrida armamentista promovida pelo dirigente daquele
país, que vem sistematicamente transformando o petróleo,
do iludido povo venezuelano, em equipamentos bélicos modernos
e sofisticados, levando insegurança aos vizinhos daquele país,
inclusive, ao Brasil.

A propósito, o Senador José Sarney, com a experiência de
ex-Presidente da República que contribuiu para o nascimento
do MERCOSUL, em discurso no Plenário do Senado Federal, no dia
29 de outubro de 2007, reforça o temor de que a Venezuela se
transforme em uma potência militar, provocando a referida
corrida armamentista na América Latina.

O Senador José Sarney, além disso, afirmou que o clima não
é favorável, no Congresso Nacional, para a adesão da Venezuela
ao MERCOSUL, porquanto esse país deveria, antes, “mostrar que
está pronto para a democracia”. Com isso, o nosso ex-Presidente
manifesta preocupação com a possibilidade de a Venezuela se
transformar em um país ditatorial.

Nesse particular, tememos que, ao aceitarmos a provocação
bélica, haja um esvaziamento de nossa agenda social, com o
desvio de recursos imprescindíveis para os programas sociais
como o Bolsa Família, a merenda escolar e o pagamento das
aposentadorias de nossos idosos.

Enfim, nessa matéria talvez a solução esteja em adotar a postura

paraguaia, qual seja a de precaução no que diz respeito à
admissão da Venezuela no MERCOSUL. Isso mesmo: já que as
nossas lideranças vacilam, deveríamos, nessa matéria, seguir
a liderança do Paraguai!

Afinal, é difícil esquecer as declarações infelizes do senhor
Chaves em relação ao Congresso Nacional brasileiro, impondo
inclusive prazo para que aprovássemos a inclusão da Venezuela
no MERCOSUL. De qualquer modo, sobre a ausência de democracia
na Venezuela, nos tranqüiliza, em parte, a posição do Presidente

Lula, quando o mesmo apregoa, com foros de sinceridade, que a
alternância do Poder é salutar para reforçar a democracia. Mais
do que isso, poderíamos até apelar ao senhor Chaves para que não
deixe de ter em consideração que a alternância de poder na
Venezuela constituiria o ponto culminante em sua modesta e bizarra


biografia.

Não obstante, nesse momento, para definir nosso juízo sobre
a matéria, temos em consideração, sobretudo, o povo venezuelano,
a Venezuela como país. Acima e a despeito do senhor Chaves –
que é passageiro, e esperando que a passagem seja a mais
breve possível – não podemos perder de vista o país chamado
Venezuela. A nação venezuelana é que permanecerá como amiga
do povo brasileiro, como nossos vizinhos, acima de “chavismos”
eventuais."

Isso lá é relatório digno do Congresso de um país com a grandeza
do Brasil? Ele pelo menos poderia esculhambar o Chávez com
informações de qualidade que houvesse conseguido, por exemplo,
numa visita à Venezuela ou ao território de Essequibo.
Mas é tudo de ouvir dizer.

Aqui está a lista de eleições vencidas por Hugo Chávez e seus
partidários na Venezuela, por conta dos "eleitores iludidos"
aos quais se refere Maluf.



Para refrescar a memória dos mais velhos e informar aos mais novos,
Paulo Maluf foi prefeito de São Paulo indicado pelo regime militar
e governador biônico do Estado. Foi aliado da linha-dura do Exército,
que tinha como um de seus expoentes o general Milton Tavares
(foto acima). Maluf votou contra a emenda que restabelecia eleições
presidenciais diretas no Brasil. Foi eleito uma vez prefeito e
duas vezes deputado federal - foi o mais votado em 2006. Hoje é

aliado do presidente Lula.



José Sarney é o mais antigo parlamentar em atividade no Congresso.
Começou a carreira como deputado federal, nos anos 50. Em 1966
foi eleito governador do Maranhão pela Aliança Renovadora Nacional
(ARENA), partido criado para dar apoio ao regime militar.
Antes do golpe Sarney havia apoiado o presidente deposto,
João Goulart. Sarney abandonou os militares para fundar a
Frente Liberal,
cavou a vaga de vice na chapa de Tancredo Neves e foi eleito
indiretamente vice-presidente da República. Quando Tancredo morreu
ficou com a vaga. Depois, deu apoio a Itamar Franco, a Fernando
Henrique e agora a Lula. Como se vê, é homem "do governo".

Reeditado em 21 de novembro de 2007

O relatório foi aprovado por 44 votos a 17. Vejam só como a mídia

brasileira é ruim: a Folha dava como certo o adiamento da votação.
O Estadão chegou a especular no mesmo sentido. A Folha disse que
o PMDB exigia uma diretoria da Petrobras em troca do voto a favor.
Estamos falando de duas potências do jornalismo brasileiro. Eu,
um pobre coitado com um site mixuruca e uma linha telefônica,
sempre soube que a votação seria hoje e cravei aqui desde
ontem à noite.


O fato concreto é que 100 de cada 90 empresários brasileiros
querem a Venezuela no Mercosul porque estão ganhando e vão ganhar
cada vez mais dinheiro lá. A Venezuela já é o sexto maior importador
de produtos brasileiros. Esqueçam a ideologia. Esqueçam direita
ou esquerda. A América Latina e a África são territórios naturais
de expansão do CAPITALISMO brasileiro. É só não deixar fermentar a

idéia, já existente, de que o Brasil é imperialista. Curiosamente,
quem vai encher as burras de dinheiro bolivariano são os

patrocinadores de Veja e da Globo.

Acrescentado em 21 de novembro de 2007

Votaram a favor:
Antonio Bulhões, PMDB
Benedito de Lira, PP
Beto Albuquerque, PSB
Carlos Willian, PTC
Chico Alencar, PSOL
Chico Lopes, PCdoB
Edmilson Valentim, PCdoB
Eduardo Cunha, PMDB
Flávio Dino, PCdoB
Geraldo Pudim, PMDB
Gerson Peres, PP
Hugo Leal, PSC
Iriny Lopes, PT
João Magalhães, PMDB
João Paulo Cunha, PT
José Eduardo Cardozo, PT
José Genoíno, PT
José Mentor, PT
José Pimentel, PT
Leonardo Picciani, PMDB
Luiz Couto, PT
Magela, PT
Marcelo Guimarães Filho, PMDB
Marcelo Ortiz, PV
Márcio França, PSB
Maria Lúcia Cardoso, PMDB
Maurício Quintella Lessa, PR
Maurício Rands, PT
Mauro Benevides, PMDB
Nelson Pellegrino, PT
Odair Cunha, PT
Odílio Balbinotti, PMDB
Paes Landim, PTB
Paulo Teixeira, PT
Professor Victorio Galli, PMDB
Regis de Oliveira, PSC
Sandro Mabel, PR
Sérgio Barradas Carneiro, PT
Tadeu Filippelli, PMDB
Valtenir Pereira, PSB
Vilson Covatti, PP
Vital do Rêgo Filho, PMDB
Wilson Santiago, PMDB
Wolney Queiroz, PDT

Votaram contra:
Antonio Carlos Magalhães Neto, DEM
Ayrton Xerez, DEM
Bruno Araújo, PSDB
Edson Aparecido, PSDB
Efraim Filho, DEM
Felipe Maia, DEM
Indio da Costa, DEM
Matteo Chiarelli, DEM
Mendonça Prado, DEM
Moreira Mendes, PPS
Nelson Trad, PMDB
Paulo Magalhães, DEM
Renato Amary, PSDB
Ricardo Tripoli, PSDB
Roberto Magalhães, DEM
Silvinho Peccioli, DEM
Zenaldo Coutinho, PSDB

Errei ao informar que o deputado Moreira Mendes, do PPS
de Rondônia,
havia votado separadamente pela aprovação do relatório.

Acrescentado em 21 de novembro de 2007

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