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A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara Federal pode votar hoje o relatório do deputado Paulo Maluf que concorda com a adesão da Venezuela ao Mercosul. O projeto tramita em regime de urgência. Além de referir-se ao presidente da Venezuela como "psicopata" e "cafajeste", através da imprensa, o relator incluiu no texto oficial que será submetido à votação seu desejo de que o presidente da Venezuela morra logo. O relatório deveria entrar para os anais das piadas legislativas brasileiras. Nele, o deputado que analisou a matéria demonstra que não sabe escrever o nome do presidente do país vizinho. Ou vai ver que, numa sutileza que seria surpreendente em Maluf, ele se refere ao Chaves mexicano? Eu esperava encontrar uma sólida argumentação baseada em fatores políticos, sim, mas também geopolíticos e econômicos. Porém, parte do relatório é calcada em notícias de jornal e revista. É a política externa do Brasil "conduzida" por subalternos dos Marinho e Mesquita. Além de desejar a morte de Hugo Chávez, Maluf sugere que ele é o verdadeiro governante da Bolívia e que o Brasil deve seguir a liderança do Paraguai, como se isso fosse algum tipo de desmoralização. Em outras palavras, Maluf ofende a Hugo Chávez, à Bolívia e ao Paraguai em um único texto oficial. Nada mau para quem é autor da célebre frase "estupra mas não mata". Além de cobrar democracia da Venezuela, o ex-prefeito de São Paulo - indicado pelo regime militar - faz menção a outro democrata, José Sarney, o oligarca que, depois de 40 anos comandando o Maranhão "deixou" o estado com alguns dos piores indicadores sociais do Brasil. Nos últimos nove anos Hugo Chávez foi eleito três vezes presidente da República pelo voto direto dos venezuelanos; Paulo Maluf tentou se eleger presidente do Brasil indiretamente e José Sarney foi eleito vice-presidente do Brasil na mesma ocasião. Os dois foram aliados do regime militar que prendeu, cassou, fechou o Congresso, censurou a imprensa, torturou e "desapareceu" com adversários políticos. José Sarney fez um discurso-denúncia contra a Venezuela no Congresso, para o qual obteve ampla cobertura da mídia, ]dando continuidade à sua campanha com artigo na "Folha de S. Paulo" em que sugere que a Venezuela está se armando para controlar território que disputa com a Guiana, ex-protetorado britânico na América do Sul. Sarney foi incluído por Chávez numa lista de ex-presidentes que fazem campanha internacional contra a Venezuela, dentre os quais se destacam o ex-primeiro ministro de Governo da Espanha, José Maria Aznar; o ex-presidente do México, Vicente Fox e o ex-presidente Alejandro Toledo, do Peru. O ex-presidente FHC também se dedica a falar mal do Brasil e de Chávez no circuito internacional de palestras. A verdade factual é que, desde 1998, Hugo Chávez ganhou mais eleições, referendos e plebiscitos do que a soma das que foram vencidas por Paulo Maluf e José Sarney no mesmo período. Eis parte da argumentação malufista: "Fazendo um parêntesis ao referido argumento, mas para reforçá-lo, lembramos a disposição do senhor Chaves em intervir ou, se quisermos, “prestar auxílio” a Bolívia, oferecendo suporte, inclusive bélico, ao regime de Evo Morales. Essa ordem de fatores nos leva, até mesmo, a vislumbrar o papel decisivo que o Senhor Chaves exerce na condução dos negócios bolivianos. Em outras palavras, não foge de nossas considerações a perspectiva de ser, o senhor Chaves, o verdadeiro governante da Bolívia, estando inclusive por trás da desapropriação vergonhosa impingida a Petrobrás na questão do gás, bem como das chantagens que o pupilo Evo vem fazendo contra o Brasil, à vista das notícias que O Estado de São Paulo traz na edição do dia 7 de novembro: “Evo impõe regras para negociar gás com o Brasil.” O que mais nos surpreende é que tudo isso vem sendo feito à sorrelfa, iludindo as ingênuas – talvez fosse melhor considerá-las como passivas – autoridades brasileiras, que não percebem o escárnio e a desfaçatez de nossos “amigos” sul-americanos. Ademais, o senhor Chaves já manifestou a pretensão de ocupar a região de Essequibo, na Guiana, como nos informa O Estado de São Paulo do dia 6 de novembro do corrente ano. Como reação interna às medidas do senhor Chaves, o Estado de São Paulo, na edição de 27 de outubro do corrente ano, observa que até o episcopado venezuelano vem se manifestando sobre o assunto, verificando que está se caracterizando ”um modelo de Estado socialista, marxista-leninista, estatista, contrário ao pensamento do libertador Simón Bolivar e também contrário à natureza do ser humano e à visão cristã do homem, porque estabelece o domínio absoluto do Estado sobre a pessoa.” Há, ainda, uma outra perspectiva para o tema Venezuela, como chama a atenção a Revista Época do dia 29 de outubro: a corrida armamentista promovida pelo dirigente daquele país, que vem sistematicamente transformando o petróleo, do iludido povo venezuelano, em equipamentos bélicos modernos e sofisticados, levando insegurança aos vizinhos daquele país, inclusive, ao Brasil. A propósito, o Senador José Sarney, com a experiência de ex-Presidente da República que contribuiu para o nascimento do MERCOSUL, em discurso no Plenário do Senado Federal, no dia 29 de outubro de 2007, reforça o temor de que a Venezuela se transforme em uma potência militar, provocando a referida corrida armamentista na América Latina. O Senador José Sarney, além disso, afirmou que o clima não é favorável, no Congresso Nacional, para a adesão da Venezuela ao MERCOSUL, porquanto esse país deveria, antes, “mostrar que está pronto para a democracia”. Com isso, o nosso ex-Presidente manifesta preocupação com a possibilidade de a Venezuela se transformar em um país ditatorial. Nesse particular, tememos que, ao aceitarmos a provocação bélica, haja um esvaziamento de nossa agenda social, com o desvio de recursos imprescindíveis para os programas sociais como o Bolsa Família, a merenda escolar e o pagamento das aposentadorias de nossos idosos. Enfim, nessa matéria talvez a solução esteja em adotar a postura paraguaia, qual seja a de precaução no que diz respeito à admissão da Venezuela no MERCOSUL. Isso mesmo: já que as nossas lideranças vacilam, deveríamos, nessa matéria, seguir a liderança do Paraguai! Afinal, é difícil esquecer as declarações infelizes do senhor Chaves em relação ao Congresso Nacional brasileiro, impondo inclusive prazo para que aprovássemos a inclusão da Venezuela no MERCOSUL. De qualquer modo, sobre a ausência de democracia na Venezuela, nos tranqüiliza, em parte, a posição do Presidente Lula, quando o mesmo apregoa, com foros de sinceridade, que a alternância do Poder é salutar para reforçar a democracia. Mais do que isso, poderíamos até apelar ao senhor Chaves para que não deixe de ter em consideração que a alternância de poder na Venezuela constituiria o ponto culminante em sua modesta e bizarra biografia. Não obstante, nesse momento, para definir nosso juízo sobre a matéria, temos em consideração, sobretudo, o povo venezuelano, a Venezuela como país. Acima e a despeito do senhor Chaves – que é passageiro, e esperando que a passagem seja a mais breve possível – não podemos perder de vista o país chamado Venezuela. A nação venezuelana é que permanecerá como amiga do povo brasileiro, como nossos vizinhos, acima de “chavismos” eventuais." Isso lá é relatório digno do Congresso de um país com a grandeza do Brasil? Ele pelo menos poderia esculhambar o Chávez com informações de qualidade que houvesse conseguido, por exemplo, numa visita à Venezuela ou ao território de Essequibo. Mas é tudo de ouvir dizer. Aqui está a lista de eleições vencidas por Hugo Chávez e seus partidários na Venezuela, por conta dos "eleitores iludidos" aos quais se refere Maluf. Para refrescar a memória dos mais velhos e informar aos mais novos, Paulo Maluf foi prefeito de São Paulo indicado pelo regime militar e governador biônico do Estado. Foi aliado da linha-dura do Exército, que tinha como um de seus expoentes o general Milton Tavares (foto acima). Maluf votou contra a emenda que restabelecia eleições presidenciais diretas no Brasil. Foi eleito uma vez prefeito e duas vezes deputado federal - foi o mais votado em 2006. Hoje é aliado do presidente Lula. José Sarney é o mais antigo parlamentar em atividade no Congresso. Começou a carreira como deputado federal, nos anos 50. Em 1966 foi eleito governador do Maranhão pela Aliança Renovadora Nacional (ARENA), partido criado para dar apoio ao regime militar. Antes do golpe Sarney havia apoiado o presidente deposto, João Goulart. Sarney abandonou os militares para fundar a Frente Liberal, cavou a vaga de vice na chapa de Tancredo Neves e foi eleito indiretamente vice-presidente da República. Quando Tancredo morreu ficou com a vaga. Depois, deu apoio a Itamar Franco, a Fernando Henrique e agora a Lula. Como se vê, é homem "do governo". Reeditado em 21 de novembro de 2007 O relatório foi aprovado por 44 votos a 17. Vejam só como a mídia brasileira é ruim: a Folha dava como certo o adiamento da votação. O Estadão chegou a especular no mesmo sentido. A Folha disse que o PMDB exigia uma diretoria da Petrobras em troca do voto a favor. Estamos falando de duas potências do jornalismo brasileiro. Eu, um pobre coitado com um site mixuruca e uma linha telefônica, sempre soube que a votação seria hoje e cravei aqui desde ontem à noite. O fato concreto é que 100 de cada 90 empresários brasileiros querem a Venezuela no Mercosul porque estão ganhando e vão ganhar cada vez mais dinheiro lá. A Venezuela já é o sexto maior importador de produtos brasileiros. Esqueçam a ideologia. Esqueçam direita ou esquerda. A América Latina e a África são territórios naturais de expansão do CAPITALISMO brasileiro. É só não deixar fermentar a idéia, já existente, de que o Brasil é imperialista. Curiosamente, quem vai encher as burras de dinheiro bolivariano são os patrocinadores de Veja e da Globo. Acrescentado em 21 de novembro de 2007 Votaram a favor: Antonio Bulhões, PMDB Benedito de Lira, PP Beto Albuquerque, PSB Carlos Willian, PTC Chico Alencar, PSOL Chico Lopes, PCdoB Edmilson Valentim, PCdoB Eduardo Cunha, PMDB Flávio Dino, PCdoB Geraldo Pudim, PMDB Gerson Peres, PP Hugo Leal, PSC Iriny Lopes, PT João Magalhães, PMDB João Paulo Cunha, PT José Eduardo Cardozo, PT José Genoíno, PT José Mentor, PT José Pimentel, PT Leonardo Picciani, PMDB Luiz Couto, PT Magela, PT Marcelo Guimarães Filho, PMDB Marcelo Ortiz, PV Márcio França, PSB Maria Lúcia Cardoso, PMDB Maurício Quintella Lessa, PR Maurício Rands, PT Mauro Benevides, PMDB Nelson Pellegrino, PT Odair Cunha, PT Odílio Balbinotti, PMDB Paes Landim, PTB Paulo Teixeira, PT Professor Victorio Galli, PMDB Regis de Oliveira, PSC Sandro Mabel, PR Sérgio Barradas Carneiro, PT Tadeu Filippelli, PMDB Valtenir Pereira, PSB Vilson Covatti, PP Vital do Rêgo Filho, PMDB Wilson Santiago, PMDB Wolney Queiroz, PDT Votaram contra: Antonio Carlos Magalhães Neto, DEM Ayrton Xerez, DEM Bruno Araújo, PSDB Edson Aparecido, PSDB Efraim Filho, DEM Felipe Maia, DEM Indio da Costa, DEM Matteo Chiarelli, DEM Mendonça Prado, DEM Moreira Mendes, PPS Nelson Trad, PMDB Paulo Magalhães, DEM Renato Amary, PSDB Ricardo Tripoli, PSDB Roberto Magalhães, DEM Silvinho Peccioli, DEM Zenaldo Coutinho, PSDB Errei ao informar que o deputado Moreira Mendes, do PPS de Rondônia, havia votado separadamente pela aprovação do relatório. Acrescentado em 21 de novembro de 2007 |
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segunda-feira, 26 de novembro de 2007
Relatório em que Maluf deseja morte de "Chaves" aprovado por 44 votos a 17 - por Luiz Carlos Azenha
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